Re-re-presentações da mulher contemporânea é uma pesquisa de criação em dança e sua relação com elementos da área do teatro – em especial a máscara cênica. O título do espetáculo faz referência às representações (máscaras sociais) das representações (imagens veiculadas na grande mídia) da mulher. Estas, por sua vez, são trabalhadas através da representação cênica, a “máscara cênica”.
O tema da pesquisa é a relação entre as imagens da mulher veiculadas na mídia brasileira atualmente com a violência de gênero sofrida pelas mulheres no seus cotidianos. A mediação entre esses dois elementos é realizada através da reflexão sobre o que é denominado “máscaras sociais”.
Violência de gênero contra a mulher é aquela sofrida pelo indivíduo mulher estritamente pelo fato de ser mulher. Se desdobra em várias categorias: física, sexual, psicológica, moral, patrimonial e simbólica. O presente projeto dará especial atenção à violência psicológica e simbólica. A primeira se caracteriza por “ (…) qualquer conduta que cause [à mulher] dano emocional e diminuição da auto-estima ou que prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação”.1 A violência simbólica seria: “a violência simbólica de gênero diz respeito aos constrangimentos morais impostos pelas representações sociais de gênero – sobre o masculino e o feminino. Por força da ordem patriarcal que caracteriza nossa sociedade são comuns as piadas, canções, comerciais, filmes, novelas, etc., que disseminam representações degradantes e constrangedoras das mulheres, a exemplo dos comerciais de televisão ou das revistas, que reforçam a imagem da “mulher objeto””
Entende-se no atual projeto que a grande mídia é uma das causadoras da violência psicológica contra a mulher brasileira hoje, através das características e comportamentos que associa diariamente à mulher, veiculados através dos seus meios. Nesse sentido contribui enormemente para a re-afirmação e legitimação de padrões opressivos da imagem da mulher . Dado que a grande mídia está bastante presente na vida de grande parte da população, dentro e fora de casa e através de variados suportes, entende-se que essa situação de opressão ocasiona manipulação e controle psicológico das ações das mulheres. Assim o faz através da veiculação de inúmeras imagens que promovem a misogina e a cultura do estupro, além de padrões estéticos associados ao desejo erótico masculino e hetero-normativo que objetifica o corpo da mulher. Além de reforçar que a importância da mulher se dá não devido ao seu comportamento/personalidade/ideias e atitudes, mas, sim, em função de sua aparência frente ao homem e a competição que estabelece com outras mulheres em função do sucesso ou não sucesso em ter alcançado determinados padrões de beleza historicamente construídos através de manifestações de poder machistas e racistas.
1 Cruz, Sabrina Uzễda Da, UFBA. Site Direito à Comunicação: http://www.direitoacomunicacao.org.br/index2.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=367&Itemid=99999999